(U2, em algum lugar dos anos 80)
… I don't need, I don't need to hear you say
That if we weren't so alike
You'd like me a whole lot more
… Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
… And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own
(Sometimes You Can´t Make it On Your Own, Bono Vox)
Fazer análise é uma longa jornada de autoconhecimento. E a relação com nossos pais é frequentemente desconstruída e reconstruída nesse caminhar. Num primeiro momento a gente enxerga o quanto o que somos hoje, nossos problemas, nossas questões, nossas limitações, nossos traumas, são consequências das ações (ou inações) dos nossos pais. Só que na medida em que a gente vai se aprofundando, a gente descobre que os nossos pais fizeram o melhor que puderam. E nessa hora a gente passa a entendê-los um pouco melhor e até a amá-los ainda mais.
Durante a minha vida inteira eu escutei o quanto eu sou fisicamente parecido com o meu pai. Quando criança, isso chegou a fazer parte da minha identidade. Em algum momento passou a me incomodar: eu queria ser eu mesmo, será que era pedir muito?
Eu não consigo dizer qual a lembrança mais antiga que tenho do meu pai. E isso não é uma coisa ruim: é porque meu pai sempre foi MUITO presente. A lembrança da infância, nos anos 80 é de um pai que trabalhava bastante: ele dava aula (de matemática) pela manhã, pela tarde e a noite. Mas nunca, NUNCA deixou de levar a mim e ao meu irmão para passear na manhã de sábado. Jamais deixou de ir em qualquer apresentação de Dia dos Pais do colégio. Meu pai me levava aos jogos do Grêmio quando eu era tão pequeno que pegava no sono no intervalo e ele tinha que ir embora para me levar para casa. Se juntar eu, meu irmão e minha irmã, meu pai foi a campeonato de judô, treino de futebol, torneio de esgrima, exposição de arte, acampamento de escoteiro e até show de rock obscuro em lugares suspeitos de Porto Alegre (sim, eu tive banda: se chamava The Sad Tomatoes).
Com o tempo, o pai se torna um amigo. E a gente aprende também que não vai concordar sempre com ele, e está tudo bem. Que somos pessoas diferentes e que no fim das contas não precisamos estar sempre na mesma página. E que não tem problema escutar a mesma história duas ou três vezes. Com algum tempinho mais, eles se tornam alguém de quem temos que tomar conta também. Lembrar dos exames, levar ao médico, acompanhar na consulta. Prestar atenção nos papeis, configurar o wi-fi, guiar pelas virtualidades. E bem vagarosamente, vamos nos tornando pais dos nossos pais.
Tenho pensado bastante no meu pai. Tudo isso porque hoje, exatamente hoje, meu pai está completando 75 anos. E eu fico feliz pelo tanto dele que consigo enxergar em mim, assim como fico feliz também pelo tanto de mim que eu sei que não é ele. Enfim, parabéns, pai. Te amo.
Superdicas
📺 Sem muito alarde, estreou no Disney+ The Acolyte, mais uma série do universo Star Wars. Essa está bem interessante justamente porque se passa beeeem longe da família Skywalker e retrata a relação dos Jedi com a Força de uma maneira bastante diferente.
🎞 Já foi ver Divertidamente 2? Então aproveite e veja no cinema. É um daqueles truques sujos da Disney/Pixar: a gente vai ver uma história infantil e tem muuuuitas reflexões de gente grande.
💥 A Editora Trem Fantasma está trazendo toda a coleção original do Corto Maltese, do Hugo Pratt. Já saíram “Uma Balada do Mar Salgado” e “Sob o Trópico de Capricórnio”. Imperdível!
☕ Um lugar bom para tomar um cafezinho, comer um sorvete e comprar umas especiarias ou queijos especiais é o Mercado Público de Porto Alegre, que enfim está reaberto depois da enchente. Ele já havia sobrevivido à enchente de 1941, não ia ser agora que ia entregar os pontos, não é mesmo?
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Até a próxima! 🍒🧚♀️
Belo texto, Pedro.