Olá, pessoal!
Se existimos, então colecionamos. Fotos, livros, momentos: tudo pode ser objeto de admiração e cuidado, inventariado por nós mesmos para ser bem guardadinho ou exibido para o mundo.
Mas como escolher o que se guarda? E será que sempre se escolhe?
Hoje, vamos falar sobre essas coisas que ficam.
Guarde um pedaço de mim
Um cheiro no lado da cama
Seu gosto na ponta do queixo
Meu sangue escorrendo seu peito.(“Palavras no corpo”, Gal Costa)
Tudo aquilo que me faz sorrir
por Isabel Dall’Agnol
Descobrir uma música e senti-la invadir minha alma. Vibrar meu violão. Dançar sem pensar. Correr de braços abertos, no ritmo de alguma canção. Respirar a natureza. Deixar-me levar pelo vento. Atirar-me no chão e sentir o sol me tocar. Contemplar uma paisagem. Desenhar com as nuvens. Assistir aos pássaros voarem. Planejar uma viagem e esperar pela aventura. Colocar os pés em uma cidade desconhecida e desvendá-la, incansavelmente. Apreciar fotos. Recordar com elas. E perceber que, às vezes, gosto daquelas que saem da minha máquina. Ler um poema e me sentir nua. Prender-me a uma história de amor. Brincar com as palavras. Enfrentar algum medo. Confortar meu coração. Aliviar uma ilusão. Um carinho inesperado, por incrível que pareça. Um abraço apertado, ainda que não pareça. Devorar uma panela de branquinho, ainda quente. Tomar um café. Beber um vinho. Esperar pela primavera. Admirar as árvores. Contar pétalas em flores. Facilmente, sonhar. Dificilmente, amar. Mas, ainda assim, sempre me entregar.
Inventário
por Brunna Stock
E o que eu faço com o que restou? De nós De mim. A imagem que me vem é essa: limpar uma escrivaninha cheia de papeis colocando todos, com um único movimento preciso, na primeira gaveta. Melhor fechar à chave, vai que algo sai dali sem querer, não é mesmo? Toda vez que conversamos sinto que foi assim que você lidou com o fim. Que tudo que fomos é apenas uma gaveta abarrotada de coisas não ditas e esquecidas. Acho triste, mas talvez seja o melhor que você pode fazer agora e aí acho ainda mais triste. Eu não consigo. Acabo por mergulhar nos papéis e me vejo quase sufocar por todas as letras-imagens-cheiros que eles têm. (O que eu faço com a memória do teu gosto?) Eu sinto. E fico fraca e pequenininha até começar a ler os bilhetes ao redor. Me autorizo ser a maior especialista em nós e catalogo um a um os itens as lembranças os beijos os planos. Cuidadosamente faço nosso inventário, selecionando cada foto ao som de cada música ao sabor de cada lágrima e tudo é muito difícil e, ao mesmo tempo, fácil porque é nós. Até que nos desato, para restarmos apenas em um pequeno relicário inacessível guardado em mim.
Superdicas
🎧Liniker, cantora maravilhosa que já falamos no P2, vai fazer show no Araújo Viana em Porto Alegre dia 27/10. É a turnê do disco Indigo Borboleta Anil, mas vamos deixar aqui de sugestão essa belezura que é Zero, um dos grandes sucessos dela na primeira formação com banda.
Peguei até o que era mais normal de nós e coube tudo na malinha de mão do meu coração.
🎨 Se tem uma coisa que Rachel Burke faz sem medo algum é criar. A artista e designer defende a ideia de se expressar sem julgamentos, usando todas as cores e materiais disponíveis sem se preocupar com a perfeição. Em 2020, ela ensinou a fazer zines e utilizei a técnica para criar coletâneas de bons momentos. O perfil dela no insta é inspirador, vale a pena seguir!
🧠 Radio Novelo Apresenta, talvez o melhor podcast brasileiro sendo produzido atualmente, nunca decepciona. Nesse episódio, um dos atos traz a história de um pai que decidiu registrar todos - sim, todos - os dias da vida de sua filha, junto com fatos que aconteceram na mesma data. Uma baita discussão sobre a passagem do tempo e o que fica nesse processo.
🍴 Porto Alegre está cheia de restaurantes italianos, mas não existe nada como a Rocco, uma trattoria vegana absurda. Localizada no Bom Fim, ela conta com um cardápio cheio de opções de pratos no almoço e no jantar, além da melhor playlist rock/pop. É proibido sair de lá sem provar o cannoli de pistache!
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Até a próxima! 🍒🧚♀️