Criar é delicioso, mas pode também ser dolorido. Doloroso? A dorzinha (ou dorzona!) ajuda na criação: só quem é artista sabe.
Costuro o infinito sobre o peito.
Te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.
(Hilda Hilst)
(Fotografia: Vanilson Coimbra)
Criar é uma maneira disfarçada de respirar
por Clarice Dall’Agnol
Não lembro bem exatamente quando comecei a escrever. Só sei que faz tempo. Sei que escrevia historinhas ainda criança, porque dia desses minha mãe me enviou fotos de meus escritos da infância. Registros importantes de uma mini escritora em formação.
Sempre me intrigou o processo criativo. Os processos criativos. Não só o meu. Os dos escritoras e escritores que admiro, bem como os dos meus amigos e minhas amigas do PáginaDois, e ainda os de meus alunos e minhas alunas de escrita criativa, de quem falei em minha última participação aqui na News.
Escrevemos primeiramente para nós mesmos (eu, pelo menos, penso assim). Há quem posteriormente tome coragem de se expor, e pense no público leitor, porque ser lido é bom demais. Ser “compreendido”, melhor ainda. Receber comentários, críticas, sugestões, pitacos, melhor ainda! Não é fácil ser criticado (principalmente, quando a crítica é dura, e mexe nas bases de nosso ser e de nosso processo de criação). Porém, é incrivelmente renovador. E impulsiona o criar. Criar é delicioso, mas pode também ser dolorido. Doloroso? A dorzinha (ou dorzona!) ajuda na criação: só quem é artista sabe.
Nos últimos dois meses, vivi experiência magnífica: submeti o original de meu primeiro livro de poemas à Editora Quelônio, importantíssima no mercado de editoras independentes, e, no caso dela, de livros artesanais.
Levei vinte anos para deixar o pânico de rejeição de lado, e mandar meus escritos para serem analisados, “julgados”, esmiuçados. Medo, insegurança, tudo isso me invadia. Até que chegou o momento de enfrentar meus fantasmas literários. Mandei. Meus editores gostaram do que leram, aceitaram, e iniciamos um processo de alguns meses de profícuas e enriquecedoras conversas sobre meus poemas e meu processo criativo.
Além disso, tive a honra de participar de perto da produção de meu primeiro livro, em realidade uma plaquete, que é um formato editorial menor, em geral muito utilizado para lançar novos autores. Foram momentos maravilhosos que dividi com meus dois editores, Bruno Zeni e Silvia Nastari, e com mais seis autoras e um autor, mega talentosos, e também estreantes. Trocas, aprendizados, novidades, trabalho intenso: nós mesmos confeccionamos nossas plaquetes artesanalmente, na tipografia belíssima da editora. Sou muito grata a todos e todas envolvidos, foi lindo!
O livro está prontinho, é uma coletânea dos meus poemas de 2022 e 2023, intitula-se “Fazer amor no século XXI", e foi pré-lançado no final de semana passado, aqui em Sampa, na Feira Miolos, na Biblioteca Mario de Andrade (nos dias 4 e 5/11/23).
O lançamento oficial será no dia 1/12/23, também aqui em São Paulo, no Instituto Frestas, em Pinheiros. Estou animadíssima, e logo divulgarei mais informações por aqui, e no Instagram.
Agora eu adorei, e não quero mais parar de publicar! Em breve, pretendo organizar meus poemas antigos e estou já reunindo os novos também.
Fazer poesia é, para mim, essencial. Lembrei-me agora de um mini poema de Quintana, que dizia algo como “Fumar é uma maneira disfarçada de respirar”. Meu aclamado conterrâneo está sem dúvidas nas minhas bases de formação como leitora, e, claro, também, como escritora. Assim, peço licença ao mestre para usar suas palavras e dizer “Fazer poesia é uma maneira disfarçada de respirar”...!
Abstração é uma Jornada
por José Calimero
A abstração é uma resposta mental para pensar de forma criativa. A abstração é a criatividade movendo-se além do que é tangível.
Por exemplo, um artista quando usa a abstração para criar uma obra de arte que não tem conexão com nada que já foi feito antes ou com aquilo que o espectador conhece. A habilidade de isolar as características mais importantes de um objeto, torna o artista um representante de um movimento original.
No entanto, a abstração também pode ser perigosa se o artista não tiver um grande repertório de viagens, leituras, observação de várias obras de artes de todos os tipos. Sem essa expansão mental, as características erradas podem ser isoladas e o projeto pode ser inútil ou até mesmo prejudicial ao criador. Logo, é necessário você se checar antes de utilizar a abstração, perguntar-se como está seu repertório, quais as suas referências, por onde você já andou, quais suas habilidades. Coloca isso no papel! Se confronte!
Em suma, a abstração é uma jornada do artista pelo mundo como ele gostaria que fosse. É uma ferramenta poderosa para a criatividade (abstração mais experiência). Mas… de nada adianta ter projetos 100% planejados e 1% executados! Nós, artistas, precisamos expor o que produzimos, sob pena de não evoluirmos. Não importa quão autocrítico(a) você seja, nada é comparável à real exposição à crítica do público. A arte é um prazer solitário, mas o artista deve se colocar em constante processo coletivo tanto na construção das obras, quanto na exposição do seu trabalho.
Superdicas
📚 “A Liberdade de Escrever - entrevistas sobre literatura e política” reúne vários depoimentos e reflexões concedidadas pelo aclamado escritor gaúcho Erico Verissimo sobre seu processo criativo, sua obra e sua vida. O livro foi publicado em 1999 pela Editora Globo, e tem prefácio de Luis Fernando Verissimo. Ainda encontra-se na Amazon e na Estante Virtual.
📚 Outra obra essencial para quem quer pensar processos criativos é "La loca de la Casa", da jornalista e escritora espanhola Rosa Montero. Publicado pela Alfaguara.
📚 Ainda, para quem deseja algo mais sofisticado e profundo, importante conhecer a obra do crítico, ensaísta e romancista inglês James Wood, “How fiction works” (“Como funciona a ficção”), publicada no Brasil pela Editora do SESI-SP.
📚E para quem se interessa pelos caminhos da criação de poesia, fundamental mergulhar em "O ser e o tempo da poesia” , do professor e e crítico literário Alfredo Bosi. Publicado pela Companhia das Letras.
🎧 Neste final de semana, São Paulo recebe nada mais nada menos que dois grandes ícones do rock'n'roll: no dia 10 de novembro, os Red Hot Chilli Peppers se apresentam no estádio do Morumbi, após seis anos sem vir ao Brasil. No sábado, 11 de novembro, é a vez do veterano Roger Waters, do Pink Floyd mexer com os corações dos fãs no estádio Allianz Park. Altas emoções!
🧠📚 Entre os dias 8 e 12 de novembro, ocorre em São Paulo a 25a Festa do Livro da USP, com várias editoras ocupando as ruas da Cidade Universitária.
📸 Miguel Rio Branco – Palavras cruzadas, sonhadas, roubadas, usadas, sangradas: A Fundação Iberê apresenta a exposição Palavras cruzadas, sonhadas, rasgadas, roubadas, usadas, sangradas, do fotógrafo, artista plástico e multimídia, cineasta Miguel Rio Branco. Organizada pelo próprio artista e por Thyago Nogueira, curador e editor da revista ZUM, Palavras foi vista no Instituto Moreira Salles de São Paulo (IMS) em 2020 e do Rio de Janeiro em 2022-23. São mais de 127 obras que mostram a vivência de Rio Branco pelas cidades por onde andou, com as pessoas com quem cruzou e os ambientes que explorou, de uma maneira muito particular de escrever com imagens. “Vejo que a maior parte da população é marginal. Eu fui atraído por umas situações humanas que me chocavam e que, ao mesmo tempo, me atraíam porque havia uma força vital ali de resistência”, diz o artista. Até 12/11/2023 na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre. (Fonte: http://iberecamargo.org.br/exposicao/miguel-rio-branco-palavras-cruzadas-sonhadas-roubadas-usadas-sangradas/)
🍴🍹📚 O Cuia Café é um charmoso e delicioso bistrô localizado dentro da incrível livraria Megafauna. “Aberta em novembro de 2020, a Livraria Megafauna é coordenada por um grupo de profissionais ligados ao meio editorial e literário e tem a proposta de expandir a ideia de livraria. Estabelecendo-se como espaço de reflexão, curadoria e criação de conteúdo, a Megafauna valoriza o livro, os livreiros, o leitor e sua relação com a cidade.” Ambos no icônico Edifício Copan, em Sampa. Imperdível para quem visita o centro histórico da capital paulista! Megafauna
Segue a gente no Instagram e no Substack.
Até a próxima! 🍒🧚♀️